A produção de hormônio gonadotrófico equino nas “fazendas de sangue” da Syntex S.A. (Cone sul da América Latina): não olhe para baixo!

Autores

  • Ana Lucia Camphora
  • David Castro

Palavras-chave:

cavalo, indústria farmacêutica, hormônio, colonialismo

Resumo

A indústria do hormônio gonadotrófico coriônico equino (ECG) serve à indústria animal mundial, promovendo a estimulação e sincronização do cio em porcas e outras espécies criadas em fazendas industriais. Sua produção é baseada no manejo precário e abusivo de éguas gestantes, fábricas vivas do hormônio extraído por sangrias realizadas durante um período específico da gestação. A publicização desse processo de expoliação que vigora nas “fazendas de sangue” na Argentina e Uruguai, da multinacional Syntex, integra a trajetória secular de milhões de equinos a serviço da indústria farmacêutica mundial. Conexões entre o cavalo, a Syntex e o contexto latino-americano são examinadas como expressão do sistema de biopoder, pilar do colonialismo, e dos seus persistentes vínculos com o capitalismo contemporâneo. O mercado do “primeiro mundo”, que suga fluidos gerados por fêmeas grávidas do Cone Sul expõe de forma muito óbvia a lucratividade gerada com a expropriação intensiva do metabolismo desses animais.

Biografia do Autor

  • Ana Lucia Camphora

    Psicóloga (UFRJ), Mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS-UFRJ) e Doutora em Ciências Sociais (CPDA-UFRRJ). Pesquisadora independente e membro do Grupo de Pesquisa História Regional e Local – UNEB.

    Email: alcamphora@gmail.com

  • David Castro

    Pesquisador independente e autor dos livros El silencio de los caballos (2015) e Y le susurré ao caballo (2017) Email: davidnhe@gmail.com

Referências

Aboglio, A. M. (2017). Caballos y políticas de la animalidad: Reflexiones acerca de una etnografía contemporánea. Revista Latinoamericana De Estudios Críticos

Animales,4(2). https://revistaleca.org/index.php/leca/article/view/146.

Animal Welfare Foundation (2018) Blood Farms - Production of PMSG in Argentina & Uruguay. AWF-TSB Report -January & April.

Animal Welfare Foundation (2022a) Umsögn um frumvarp til laga um breytingu á lögum um dýravelferð, nr. 55/2013 (bann við blóðmerahaldi) AWF-TSB Report 2021–2022. Animal Welfare Foundation (2022b) Blood farms: Production of PMSG in South America.

AWF-TSB Report March 2021-March – 2022.

Bell, Stephen. 2000. “Social networks and innovation in the South American meat industry during the pre-refrigeration era: Southern Brazil and Uruguay in comparison.” Scripta Nova – Revista Electrónica de Geografia y Ciencias Sociales online edition, 69 (84).

Cabral, D. C. & Vital, A. V. (2022) Las fuentes escritas a luz de la noción de coautoría humano-animal. Historia ambiental de América Latina Enfoques, procedimientos y cotidianidades, ed. Pedro S. Urquijo, Adi E. Lazos and Karine Lefebvre. Campus Morelia: Universidad Nacional Autónoma de México Centro de Investigaciones en Geografía Ambiental, p. 275-293.

Camphora, A. L. (2021). Animals and society in Brazil from the sixteenth to nineteenth centuries. Cambridgeshire, UK: The White Horse Press.

Carvalho, P. T. (2021) A modernidade colonial e o constructo especista-racista. Revista Latinoamericana de Estudios Críticos Animales, ano VIII-Vol II, p. 123-135.

Castro, A.J.W. (2011) Documentos contam a história do Instituto Vital Brazil. Ed. Rio Books: Rio de Janeiro.

Cesteros, M. B. (2021) Written in Blood? Decoding Some Red Inks of the Greek Magical Papyri. In: Lucia Raggetti (ed.) Traces of Ink: Experiences of Philology and Replica- tion. Brill (pg 33-56)

Darwin, C. 1913. A naturalist’s voyage round the world. London: John Murray, Albermale Street. Derrida, J. (1990) Force of Law: The ‘Mystical Foundation of Authority’. Trans. M.

Quaintance. Cardozo Law Review, 11: 920–1045.

Dutra e Silva, S. & Fernandes, V. (2022) Historia y racionalidad ambiental en el lado sombrío de la modernidad. Historia ambiental de América Latina Enfoques, procedimientos y cotidianidades, ed. Pedro S. Urquijo, Adi E. Lazos and Karine Lefebvre. Campus Morelia: Universidad Nacional Autónoma de México Centro de Investigaciones en Geografía Ambiental, p.61-77.

Evagorou, M., Erduran, S. and Mäntylä, T. (2015) The role of visual representations in scientific practices: from conceptual understanding and knowledge generation to ‘seeing’ how science works. International Journal of STEM Education, 2:11.

Ferrarotti, F. (1998) A Revolução Industrial e os novos trunfos da ciência, da tecnologia e do poder. In: Federico Mayor e Augusto Forti (org) Ciência e Poder. Brasília: UNESCO Brasil, p.45-62.

Fraser, D. (2008) Understanding Animal Welfare: the Science in its Cultural Context.

UFAW Animal Welfare Sciences, Wiley-Blackwell: Oxford, UK.

Freitas, D. (1993) O capitalismo pastoril. Ensaios FEE, Porto Alegre, (14), 2: 438-465. Gabbert, W. (2012) The Longue Durée of Colonial Violence in Latin America. Historical Social

Research / Historische Sozialforschung 37, no. 3 (141) (2012): 254–75. http://www.jstor.

org/stable/41636608.

Gambeta, W.R. (1982) Ciência e Indústria Farmacêutica São Paulo, Primeira República.

Estudos Econômicos, 12, 3:87:98.

Ibañez, N., Wen, F. H., & Fernandes, S. C. G. (2007). A autosuficiência na produção de imunobiológicos e a criação Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan. Cader- nos de História da Ciência, 3(1), 9–34.

Kosminsky, D. (2013) Visualidade e visualização: olhar, imagem e subjetividade. Szaniecki, B., Lessa, W. D., Martins, M. & Monat A. (org) Dispositivo fotografia e contempora- neidade. PPD/ESDI/UERJ: Ed. Nau, Rio de Janeiro.

Leal, Ondina. 1989. The Gauchos: male culture and identity in the Pampas. [PhD thesis University of California at Berkeley]

Leite, B.M.B. 2015. Os animais brasileiros na cultura europeia da época moderna de The- vet a Redi. In: L. Kury (ed.), Representações da fauna no Brasil – séculos XVI–XX,

pp. 40–82. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdios.

Lewowicz, L. 2016. Lemco: Un colosso de la indústria cárnica em Fray Bentos, Uruguay.

Montevideo: INAC.

LLored, P. O outro feminismo (a inventar) de Derrida: as implicações éticas e políticas do carnofalogocentrismo. Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência, Rio de Janeiro, v.9 nº 2, p. 61-76.

Hochman, G., & Lima, N. T. ‘Pouca saúde e muita saúva’: sanitarismo, interpretações do país e ciências sociais. In: Hochman, G., and Armus, D., orgs. Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004. História e Saúde collection, pp. 492-533.

Mansilla, L.V. (2003) Una excursión a los indios Ranqueles. Biblioteca Virtual Universal. Martins, T. (1934) Estudos sobre gonadas e hypophyse. Memórias do Instituto Butantan,

tomo VIII: pag 349-351.

Morin, Edgar (1980) O Método II: a vida da vida. Publicações Europa-América: Lisboa. Murphy, B.D. (2012) Equine chorionic gonadotropin: an enigmatic but essential tool. In:

Anim Reprod, vol 9, n.3, p.233-230, Jul-Sep.

Nascente, L.S. (2016) Vulgarização da luta contra o ofidismo: diálogo possível entre mitos, len- das e a ciência moderna. Cadernos de História da Ciência – Instituto Butantan: 104-124.

Opotherapy. (1908). The British Medical Journal, 1(2455), 163–163. http://www.jstor.org/ stable/25276241.

Palermo, M. A. (1986) Reflexiones sobre el llamado ‘complejo ecuestre” en la Argentina.

Runa, XVI:157-178.

Ponte, C. F. (2003) Vacinação, controle de qualidade e produção de vacinas no Brasil a partir de 1960. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 10 (supl 2): 619-53.

Pucca, M.B. et al (2019) History of Envenoming Therapy and Current Perspectives. Front.

Immunol.| https://doi.org/10.3389/fimmu.2019.01598.

Reinert, H. (2012) The disposable surplus: notes on waste, reindeer, and biopolitics. Labo- ratorium, 4(3):67-83.

Ribeiro, M.A.R. (2001) Saúde pública e as empresas químico-farmacêuticas. Hist. cienc. saude-Manguinhos 7 (3), Fev.

Rodrigues, G. K. (2019) Ciência a preço de garrafada: a transnacionalização de fármacos no pós-segunda guerra (1945-1961). Khronos, Revista de História da Ciência, nº 8, pp. 1-28.

Saint-Hilaire, A. (2002) Viagem ao Rio Grande do Sul. Trad. Adroaldo Mesquita da Costa.

Brasília, Senado Federal.

Sandoe, P. e Christiansen, S.B. (2008) Ethics of Animal Use. Blackwell Publishing: Oxford, UK. Santos, F. L. (2018) A história da talidomida no Brasil e a trajetória para conquista de di- reitos das pessoas com a Síndrome Teratogênica [Tese Doutorado, Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa] Simon, J. (2016) Diphtheria Serum as a Technological Object: A Philosophical Analysis of

Serotherapy in France 1894-1900. Lexington Books.

Solppesa, P. (2015) Reviving Animals as Technology - Ann Norton Greene, Horses at Work. Technology and Culture, Volume 56, Number 1, January 2015, pp. 252-260.

Souza, G.S. (1974) Notícia do Brasil. São Paulo: MEC.

Turner, F. (1990) O espírito ocidental contra a natureza. Rio de Janeiro: Campus.

Urquijo, P. S. (2022) Consideraciones para una aproximación a la historia ambiental. Historia ambiental de América Latina Enfoques, procedimientos y cotidianidades, ed. Pedro

S. Urquijo, Adi E. Lazos and Karine Lefebvre. Campus Morelia: Universidad Nacional Autónoma de México Centro de Investigaciones en Geografía Ambiental, p.22-41.

Vander Velden, F. F. (2012) Inquietas companhias: sobre os animais de criação entre os Karitirana. São Paulo: Alameda.

Waack, R. S. & Neves, M. F. (1995) Insumos veterinários no Mercosul. Informações Econômicas, SP, v.25, n.8, ago.

Woods, A. et al (2018) Animals and the shaping of Modern Medicine: one health and its histories. Palgrave-MacMillan: University of Manchester, UK.

Filme institucional Syntex https://www.syntexar.com/el-bienestar-animal.

PMSG PRODUCTION AND ITS COMMITMENT TO ANIMAL WELFARE https://www.syntexar.com/_files/ugd/f14b3a_6aad24f7cf58454e81b84e27710ecda0.pdf.

Downloads

Publicado

2022-12-20

Edição

Seção

DOSSIÊ O uso de equídeos na medicina moderna

Como Citar

A produção de hormônio gonadotrófico equino nas “fazendas de sangue” da Syntex S.A. (Cone sul da América Latina): não olhe para baixo!. (2022). Revista Latinoamericana De Estudios Críticos Animales, 9(2). https://revistaleca.org/index.php/leca/article/view/378