Dossiê Ano XI, Vol I: Nietzsche, Foucault e a crítica ao antropocentrismo. Data limite: 31 de maio de 2024

01-03-2024

De modo geral, nesse dossiê, nosso intuito é o de mapear em que medida Nietzsche e Foucault teriam contribuído, a partir de suas críticas à vontade de poder atrelada à racionalidade e ao racionalismo modernos, à problematização do antropocentrismo como norteador de nossas práticas ético-políticas, estejam elas vinculadas à macrofísica ou à microfísica do poder, ou seja, às organizações institucionais atinentes ao Estado ou à forma pela qual nos relacionamos com os entes mais que humanos no contexto de nossa interações domésticas ou de nossas interações sociais situadas. 

Nietzsche e Foucault não são autores propriamente animalistas-ecologistas, mas suas filosofias foram e são extremamente importantes para o desenvolvimento de uma atitude teórico-prática pós-humanista, isto é, de uma atitude que não se fundamenta e tampouco se justifica em uma conceituação excludente de humanidade, a qual supervaloriza – de um ponto de vista ético, político, estético e epistemológico – os animais humanos em detrimento dos entes mais que humanos. As críticas que Nietzsche e Foucault voltam ao antropocentrismo nos permitem compreender filosoficamente os motivos pelos quais vivenciamos, na contemporaneidade, desastres e desequilíbrios ecológicos praticamente incontornáveis.

Além disso, não podemos deixar de mencionar que Nietzsche e Foucault são autores de grande importância para filosofias abertamente comprometidas com a abolição e mitigação das violências perpetradas pelo humano no contexto das interações interespécies. Nesse sentido, Nietzsche e Foucault são autores imprescindíveis para Paul B. Preciado, Rosi Braidotti, Donna Haraway e Judith Butler, por exemplo. 

Assim sendo, no presente volume, interessa-nos compreender em que medida o perspectivismo nietzschiano, mas também suas análises sobre a vontade de poder, o niilismo, os afetos e a transvaloração dos valores teriam contribuído para o desenvolvimento de uma atitude teórico-prática não antropocêntrica que influenciaria, inclusive, Foucault. Talvez possamos afirmar que a crítica foucaultiana acerca da relação entre o humanismo e os mecanismos de exclusão das diferenças, por meio dos processos de animalização dos loucos, delinquentes e criminosos, bem como a anunciação foucaultiano-arqueológica da (necessária) morte do Homem tiveram inspirações nietzschianas. Ao voltar seu olhar às filosofias gregas e romanas, mais especificamente ao cinismo, Foucault também parece seguir as trilhas abertas por Nietzsche. Em suas análises, Foucault destaca a dimensão animalesca ou animalista do modo de vida cínico, que subvertia os degradantes valores vigentes na civilização humana através da valorização da simplicidade da vida animal. Com base em Foucault, parece ser possível dizer que a subversão cínica dos valores humanos se constitui como uma espécie de prelúdio da estratégia nietzschiana de transvaloração. Por fim, não podemos deixar de mencionar nosso interesse pelas recepções contemporâneas da biopolítica foucaultiana, que levam em consideração a problematização da gestão da vida e da morte para além da espécie humana. 

Gostaríamos, então, de reunir no presente volume estudos que tracem a importância de Nietzsche e/ou de Foucault para a emergência de uma atitude teórico-prática não antropocêntrica ou pós-humanista no campo da análise dos discursos e no da ação ético-política. Em suma, trata-se de pensar tanto a relevância de Nietzsche e Foucault no que se refere aos discursos e práticas animalistas-ecologistas, quanto a maneira pela qual suas filosofias são recepcionadas por autores e autoras de viés pós-humanista. 

 

  • Interessades em publicar neste dossiê podem enviar suas contribuições nas seguintes seções: (1) Ensaios e Artigos; (2) Informes de investigação; (3) Entrevistas; (4) Arte; (5) Resenhas e (6) Traduções. 
  • Data limite para submissão de contribuições: 31 de maio de 2024
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  • Previsão de publicação do número: setembro de 2024.

 

Coordenam o número: Anahí Gabriela González, Cassiana Lopes Stephan, Andrés Padilla Ramírez, Hugo Vedovato, Imanol López.